10/28/2009

Dream #1

Numa manhã triste e cinzenta apercebi-me de que algo não estava bem.
Sentia um ‘’nó na barriga’’, enjoos, calor, tonturas. Tudo o que se pode sentir de mau.
Descobri que tinha um ser dentro de mim.Não tinha coragem para enfrentar tal problema, para assumir tal responsabilidade.
Apenas pensava na dor da minha mãe, no desgosto que esta iria sentir e na sua tristeza.
Muitos dias eu passei sem durmir, muitos dias eu passei a chorar, dias de pura tristeza, em que a minha melhor amiga era a almofada.
Apenas me restavam as visões do futuro. As decisões a tomar, se tinha a criança ou se abortava.
Toda a gente estranhava a minha atitude, eu não falava, não comia e apenas engordava.
Sentia-me a pior pessoa do Mundo.
Precisava de me decidir e o tempo sempre a passar.
Um dia tomei a decisão de falar com a minha mãe, mesmo sabendo perfeitamente a forma como iria reagir ao assunto, pois ía ficar destroçada. Ia sentir-se culpada devido ao modo da minha educação (mesmo sabendo que não tinha culpa nenhuma).
Contei-lhe e ela nem obteve reacção. Paralisou no canto da sala que estava.
Pedi-lhe para que não contasse a ninguém e simplesmente reagiu com uma lágrima do canto do olho, apenas de desilusão.
Chorei também de vergonha, abraçei-a com toda a “força do Mundo” e pedi-lhe ajuda.
Fui ao médico para me aconcelhar. Quando este me viu paralisou e disse “Uma criança tão linda, apenas de 14 anos, com uma carinha de menina e vens aqui (...)”, suspirou e eu nem respondi.
Todos me olhavam de canto, como se fosse uma criminosa.
Sofria todos os dias, sozinha, e sofria ainda mais ao ver a minha mãe naquele estado.
Depois de tantas noites mal passadas, de dias seguidos a chorar, falei com a minha mãe devido à decisão tomada.
Decidi abortar, e ela nem se opôs, até me recordo de suas palavras “Apoio-te como sempre te apoiarei em decisões como estas”.
Foi sugerida uma cirurgia na Póvoa-de-Varzim.
Fui, cheia de medo e ansiosa ao mesmo tempo para tirar aquele ser, ainda por se formar, dentro de mim.
Agora penso que já podia ter uma criança nos braços, para que me apoiasse quando precisa-se, a cuidar dela e a dar-lhe o carinho necessário.
Hoje choro pela decisão tomada, mais tarde certamente vou sorrir e pensar que afinal não estava preparada para tal reponsabilidade.

Cláudia Rodrigues